sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Hans-Joachim Marseille

Hans-Joachim Marseille, foi considerado o maior piloto de caça de todos os tempos, graças à sua genial habilidade e seu elevado espírito combativo. Dia 30 de setembro, completaram-se 66 anos de seu falecimento, por isso, prestando uma homenagem a esse grande ás da aviação alemã, envio-lhes trechos de sua biografia, que recebí por email.
Marseille foi, entre outros tantos elogios, assim qualificado pelo General der Jagdflieger Adolf Galland: "...o mais virtuoso, jamais igualado, entre os pilotos de caça da Segunda Guerra Mundial. Suas façanhas eram consideradas inconcebíveis, até então, e ninguém conseguiu superá-las mesmo depois da sua morte. Sua habilidade de derrubar esquadrilhas inteiras em uma única surtida é a base de sua legenda, que sustenta seu mito. Marseille é ainda cultuado pela maioria dos pilotos de caça da Luftwaffe como sendo o melhor entre os melhores, excelente atirador, piloto acrobático e o qual empregava a melhor tática; a combinação dessas habilidades deu origem ao mais letal piloto de caça de sua época".
Os americanos Raymond F. Toliver e Trevor J. Constable - autores do livro Fighter Aces of the Luftwaffe e também participantes daquele conflito mundial, de posse de registros de ambos os lados e após entrevistas com os principais entre os numerosos ases da aviação de caça alemã, obtiveram uma uniformidade de opiniões sobre Marseille que o descreviam como um excepcional piloto, dotado de uma soberba visão tridimensional e de uma habilidade única de atirar.
Sua carreira foi meteórica, entrou para a Luftwaffe aos dezoito anos e meio e aos vinte e dois já estava morto, deixando em seu currículo uma série de façanhas inigualáveis. No último ano de sua vida, não somente foi agraciado (não chegou a receber) com a mais alta condecoração militar alemã, os Diamantes da Cruz de Cavaleiro, como também se converteu em mais um dos eternos heróis de sua nação.
Passado mais de meio século após sua morte, o tempo não diminuiu em nada a fama e glória que ele conquistou no deserto do Norte da África, pelo contrario, hoje em dia "A Estrela da África" brilha mais forte que nunca.
Hans-Joachim "Jochen" Marseille, nasceu em Berlin-Charlottens-burg, Alemanha, em 13 de dezembro de 1919, no seio de uma familia de militares de ascendência francesa. Seu pai foi um oficial do exército que alcançou o posto de general e lutou em Stalingrado.
O fato de seus pais viverem separados, sem dúvida deve ter influenciado na formação de seu caráter. Quando mais jovem, ele se caracterizou por sua indiferença frente aos ideais conservadores e autoritários, sendo sempre informal e despreocupado com a disciplina e o protocolo militar.
Contudo, mesmo tendo aversão pelos ideais militares, sua paixão pelo vôo o conduziu a ingressar na Luftwaffe em 07.11.1938. Em 13. 03.1939 Marseille foi promovido a Fahnenjunker e no inicio do verão daquele mesmo ano foi transferido para Luftkriegsschule Flirstenfeld-bruck onde fez seu primeiro vôo solo a bordo de um Focke-Wulf Fw 44 "Stieglitz".
Em 01.05.1939 foi promovido a
Fahnenjunker-Gefreiter, exatamente dois meses depois, em 01.07.1939 foi pro-movido a Fahnenjunker-Unteroffizier e em 01.11.1939 a Fähnrich, mesmo dia em que foi transferido para a Jagdfliegerschule 5. Durante seu treinamento militar sobressaiu-se, principalmente, pelas infrações disciplinares.
Após concluir o curso de formação de piloto em 10 de agosto de 1940, Marseille foi designado para servir no I(J)/LG 2 (Gruppe I da (Jagd) Lehrgeschwader 2) durante a Batalha da Inglaterra onde conseguiu sua primeira vitória em 24.08.1940 diante de um Hurricane da RAF.
Em 02.09.1940 Jochen conquistou sua segunda vitória diante de um Spitfire, sendo condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª classe. Nesse mesmo mês, ele abateria outros cinco caças da RAF, recebendo a Cruz de Ferro de 1ª classe.
Ao todo, ele alcançou sete vitórias naquele teatro e foi obrigado a abandonar seu Bf 109E seis vezes. Dentre as principais causas dessas "derrotas" sempre estava presente a sua indisciplina e o prazer pela caça solitária, violando constantemente a doutrina de combate aéreo.
Contudo, apesar de demonstrar desde o inicio uma habilidade natural para derrubar aviões inimigos, nessa época ninguém podia imaginar que o jovem Fähnrich pudesse chegar a ser o que foi um dia.
Ao terminar a Batalha da Inglaterra, em 24.12.1940 ele seria transferido para o 4./JG52, comandado por Johannes "Macky" Steinhoff. Nessa época, sua folha de serviço era um acumulado de faltas e sanções disciplinares.
Marseille, era bem afeiçoado, boêmio e mulherengo. Primando pela elegância e irreverência, tornava-se o favorito das garotas e em muitas ocasiões chegava a faltar aos compromissos militares por ter "amanhecido em claro".
No entanto, de um certo modo, o comandante Steinhoff tolerava essas faltas porque considerava que por detrás daquele piloto indisciplinado havia um ás em potencial.
No dia 21.02.1941 Marseille foi transferido para Döberitz, próximo a Berlím, onde se encontrava baseado o 3./JG27 sua nova unidade. Em 21.04.1941 ele e seus companheiros de esquadrão foram enviados ao Norte da África afim de prover apoio aéreo ao
Africa Korps de Rommel. Nessa unidade, o jovem berlinense superou-se como piloto, e fez de seu Messerschmitt Bf 109 (14-amarelo) o maior carrasco dos combates aéreos travados nos céus norte-africanos. Já nas primeiras missões no novo cenário, desenvolveu e apurou a sua capacidade de visada de tiro, shooting eye, despontando para a fama.
Numerosos ases admitiam que, normalmente, esse ponto de visada só se tornava efetivo depois de um longo período de medíocres e frustrantes desempenhos. Quando pegou o "seu ponto", Marseille tornou-se insuperável na história do combate aéreo. Considerado um computador humano, enquanto evoluía no espaço, ele, num lance visual, era capaz de avaliar a correta visada e determinar o exato momento do tiro. Dois dias depois de ter desembarcado na África, em 23.04.1941 já conseguia sua primeira vitória no deserto diante de um Hurricane sobre Tobruk e em 01.06.1941 era promovido a Oberfähnrich.
"Quando Marseille veio para a JG27, ele trouxe uma reputação militar muito ruim, e não era um companheiro simpático. Ele tentou se exibir, e se considerava como um astro de cinema. Na África, ele ficou ambicioso, no bom sentido, e mudou completamente seu caráter, depois de pouco tempo. Ele possuía um pensamento muito rápido e não era um bom líder nem bom professor, mas os pilotos o adoravam. Eles o agradeciam, por protegê-los e trazê-los para casa em segurança. Ele era um cavalheiro, uma mistura do ar fresco de Berlim e do champanhe francês". Eduard Neumann, 13 vitórias, Kommodore da JG27.
Os que tiveram o privilégio de vê-lo em ação, jamais esqueceram a sua precisão e os incríveis ângulos a partir dos quais conseguia o acerto letal. Os mecânicos de armamento, responsáveis pelos remuniciamentos da sua aeronave, constatavam com freqüência cofres semi-usados apesar dos múltiplos resultados positivos alcançados por ele em suas missões.
Os alemães eram muito meticulosos com relação aos relatórios de combate incluindo todos os dados relevantes como tempo de batalha, área de operação, oposição encontrada, e o uso dos armamentos. No fim de cada missão, eram contados o número de tiros disparados durante o vôo através das cápsulas utilizadas. Marseille freqüentemente alcançava a espantosa média de 15 balas por vitória obtida muitas delas resultando na queda do avião inimigo (de acordo com estatística feita pelo Comando de Caça e relatada por um membro do seu Estado-Maior, o Maj Günther Rall, 275 vitórias). Feito incrível, considerando que sua aeronave não possuía visor giro! Nenhum outro piloto seja ele alemão ou de qualquer outra nacionalidade se compara a ele neste aspecto!
À medida que passavam os meses, Marseille adquiria e aprimorava cada vez mais as suas qualidades de piloto de caça. Através da prática constante e o desejo de ser o melhor de sua unidade, Marseille era um dos poucos pilotos capazes de dominar completamente seu Bf 109, usufruindo ao máximo de sua capacidade. Ele praticava suas técnicas sempre que podia, mais e mais vezes, freqüentemente contra os próprios companheiros de esquadrão, enquanto retornavam de uma missão. Sem demora, ele tornou-se capaz de fazer o que poucos ou nenhum piloto conseguia, derrubar vários aviões inimigos em tempo recorde. Nesses ataques chegava a abater quatro, cinco e até oito aeronaves numa única surtida. Seus movimentos eram tão rápidos que era comum os pilotos aliados pensarem que estavam sendo atacados por uma grande formação de caças.
Começou a conquistar vitória atrás de vitória, para satisfação do Ministro da Propaganda alemão, que não perdia a oportunidade de apresentá-lo nos noticiários de cinema, jornais e revistas.
Assim ele foi transformado num ídolo, não apenas para seus companheiros de batalha, mas também para toda a população germânica, que estava sempre a espera das façanhas do jovem piloto. Marseille tornara-se um super star, a Estrela da África como era chamado nos jornais, que recebia enorme quantidade de correspondência, em especial de suas admiradoras, as quais compartilhava com seus companheiros de esquadrão, que passavam horas lendo e comentando.
Em 21.02.1942 alcança sua 50ª vitória aérea, no dia seguinte é condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro e promovido a Leutnant. Em 06.06.1942 recebe as Folhas de Carvalho da Cruz de Ferro (97º a receber esta condecoração) após conquistar sua 75ª vitória, dois dias depois é nomeado Staffelkapitän do 3./JG27. Em 17.06.1942 atinge 101 vitórias aéreas (11º piloto a superar a marca de 100 vitórias, mas o 1º a conquistar exclusivamente contra a RAF), no dia seguinte é condecorado com as Espadas da Cruz de Cavaleiro (12º a re ceber esta honraria).
A habilidade de Marseille não tem paralelo na historia da aviação militar. A simbiose homem-máquina transformava seu Messerschmitt Bf 109 em um ser único que parecia ter vida própria. Ele se movia com uma graça e precisão que impedia qualquer tipo de fuga por parte dos adversários, ou ao menos que pudessem enfrentá-lo em condições de igualdade.
Sua velocidade e movimentos, que algumas vezes atingiam acelerações de 3 ou 4 vezes a da gravidade, subitamente eram reduzidos aos limites de sustentação do avião, utilizando ailerons para manter o aparelho na posição precisa, para em seguida, com um ligeiro movimento no manete e acelerador, apontar o nariz do avião para o ponto exato que ele determinava.
A DAF - D
esert Air Force (Força Aérea do Deserto), composta por unidades da Royal Air Force, Royal Australian Air Force, e South African Air Force, utilizavam normalmente a formação defensiva denominada Lufbery Circle, em homenagem ao piloto de caça norte-americano da I Guerra Mundial que desenvolveu esse tipo de formação, Raoul Lufbery. Quando encontravam uma formação inimiga superior numericamente ou em posição de vantagem, os caças da DAF formavam um círculo defensivo, com as aeronaves próximas umas das outras, de modo a concentrarem o seu poder de fogo. Em teoria, se um caça alemão tentasse se posicionar atrás de
um caça britânico, o outro caça da DAF que estivesse atrás do primeiro abriria fogo contra o caça alemão, que havia se intrometido no círculo. Mas Marseille não se deu por vencido, e desenvolveu uma tática, que embora tivesse custado alguns Bf 109s no início de seus combates no deserto, permitiu que ele quebrasse aquela formação inglesa e conseguisse abater vários aviões inimigos.
Começando de um ponto a alguns milhares de pés acima do círculo, e afastado lateralmente cerca de uma milha, Marseille mergulhava por baixo da formação e atacava por alí. Escolhia uma vítima que não o havia visto, alinhava seu avião e descarregava uma curta e mortal rajada de metralhadoras e canhões, normalmente atingindo o motor, o cockpit e quase sempre matando o piloto. Após o ataque, ele executava um mergulho, e se afastava em segurança, retornando ao ponto inicial para um novo ataque. Repetindo essa manobra ou suas variantes varias vezes.
"... Durante os combates sobre os comboios que iam à Tobruk, os britânicos introduziram o círculo defensivo. Era uma tática muito eficiente, entretanto Marseille acabou com ela; ele mergulhava por baixo perto do círculo, e com a velocidade adquirida subia rápido, e quase ao atingir o nível do círculo ele se colocava atrás de um Tommy, rapidamente atirava com precisão e mergulhava em direção ao mar, sem que fosse possível perseguí-lo. Repetia a manobra até que conseguisse quebrar a formação. Nenhum outro piloto alemão conseguia ser tão eficiente e repetir o desempenho de Marseille, embora todos soubessem o que fazer." - Werner Schröer, 114 vitórias, 8./JG27.
Em 1º de setembro de 1942 durante a batalla de Alam El Halfa, Marseille atingiu o auge de sua carreira derrubando dezessete aviões inimigos em tres missões de combate. A primeira teve inicio as 7:30, quando o frio da noite começava a ceder, frente a presença do sol abrasador. Essa primeira missão do día era de escolta para uma esquadrilha de Stukas que devía realizar bombardeios ao sul de Imayid. As 7:50 a esquadrilha de Marseille se encontra com os
Stukas. Logo depois, Marseille ordenou que subissem a 3.500m para fazer a cobertura. Subitamente Marseille comunicou pelo rádio que estava atacando. Alguns segundos depois, seu ala vía Marseille detrás de um caça inimigo. Um disparo curto e o avião britânico fez um movimiento extranho desabando céu abaixo. Pöttgen olhou a hora, 8:26 e anotou a posição no mapa. Nem bem terminara de fazer as anotações quando viu Marseille que girava para a esquerda e atacava outro P-40. Eram 8:28 e dois quilômetros a leste, caía outro avião da RAF. Enquanto isso, os Stukas haviam completado sua missão e davam meia volta, porém os caças restantes se lançaram contra eles. Às 08:35 Marseille atacou novamente alcançando sua terceira vitória. Nesse momento quando iniciavam a cobertura de retorno à base, surgiu uma esquadrilla de Spitfires V. Agora Marseille e seu ala corríam serio perigo ao enfrentar os seis caças britânicos, no entanto o jovem piloto sabia muito bem o que devia fazer. Executou um giro para cima e para trás e se dirigiu como uma flecha contra o líder inglês. O Spitfire disparava sem trégua e Marseille virou subitamente até ficar a frente do resto da esquadrilha britânica, que passou rugindo a seu lado. Meio giro em 180 graus e estava a menos de 100 metros do último Spitfire. Duas rajadas curtas e o avião inglês iniciou um mergulho sem volta, eram 8:39.
Às 9:14 a esquadrilha de Marseille tocava o solo. Revisão e recarga de armas e combustível. Marseille havia disparado apenas 20 projeteis de canhão e 60 balas de metralhadora. Porem não houve surpresa, essa era a sua média de tiros por missão. Às 10:20 novamente a esquadrilha estava no ar para escoltar os
Stukas. Não demorou muito tempo quando a vista privilegiada de Marseille avistou duas formações de 18 bombardeiros inimigos escoltados por duas esquadrilhas de caças com 25 aviões cada uma. Nessa época, a superioridade numérica inglesa já era evidente na África. Uma das esquadrilhas de escolta se lançou contra os Stukas. Marseille e seus companheiros lhes cortaram o caminho. Os ingleses imediatamente tomaram a formação em círculo. Marseille se enfiou entre o círculo a toda potência, reduzindo subitamente a velocidade e dando um giro para esquerda, disparou contra o primeiro caça que encontrou a sua frente, eram 10:55 quando caiu o primeiro P-40, 20 km ao sul de Alam-el-Halfa . Trinta segundos depois caía o segundo. Os ingleses romperam o círculo e se emparelharam para escapar rumo a noroeste. Marseille já estava atrás do último avião. Duas rajadas curtas e caía outro caça britânico às 10:58. Os ingleses se agruparam ainda mais, Marseille os seguiu rumo ao Mediterrâneo. Um minuto depois caía o quarto caça da RAF, mais dois minutos, o quinto P-40 explodia no ar sob o fogo do jovem berlinense.
O sexto caça foi derrubado as 11:02. O restante da esquadrilha inglesa voava em formação cerrada e não viram os caças alemães que os seguiam. Marseille se lançou direto até eles atacando-os com disparos certeiros, o último que explodiu no ar, era um P-40. Marseille ordenou que regressassem quando viu outro P-40 que escapava deixando uma nuvem de fumaça branca. O jovem berlinense não pensou duas vezes e se lançou como um falcão sobre sua presa. Novamente, um par de rajadas curtas bastaram para desintegrar mais um caça britânico que se encontrava aproximadamente a 80 metros de distância. O saldo era impressionante, até mesmo para os companheiros de Marseille. Haviam sido abatidos oito aviões em apenas dez minutos: às 10:55; 10:56, 10:58, 10:59, 11:01, 11:02, 11:03 e 11:05.
O dia não havia terminado. Contudo, depois de um breve descanso, não pode liderar seu
Staffel na missão seguinte por causa de problemas com um dos pneus. Teve que esperar até as 17:00 para voltar a decolar escoltando um uma esquadrilha de Ju 88. Logo apareceram quinze P-40 que se lançaram contra os bombardeiros quando Marseille já estava em curso de colisão com os caças da RAF. Novamente se formaram em círculo e uma vez mais Jochen se metía entre eles rompendo a formação. A ação durou apenas seis minutos e nesse curto espaço de tempo Marseille derrubou cinco aviões ingleses. Os quatro primeiros caíram a intervalos de um minuto entre eles, das 17:45 às 17:50 e o último às 17:53. A proeza de haver derrubado 17 aviões em um único dia se cumpria na mesma data em que foi informado da morte de seu pai.
Dois dias depois, após conquistar sua 126ª vitória, Marseille foi promovido e condecorado, tornando-se aos 22 anos de idade, o mais jovem Hauptmann da Luftwaffe e o quarto homem em toda Wehrmacht a ser agraciado com a mais alta condecoração militar alemã, os Diamantes da Cruz de Cavaleiro, porém nunca os recebeu. Depois desse brilhante início, encerrou o que seria o último mês de sua vida com um feito dos mais marcantes, quando em um período de nove dias abateu 44 aviões, perfazendo um total de 61 vitórias naquele mês, incluindo sete caças Curtiss P-40 da RAAF em 15.09.1942, em apenas onze minutos, alcançando suas vitórias de número 145 à 151. Em 26.09.1942, conquista suas últimas sete vitórias, totalizando 158 confirmadas. Neste mesmo mês, recebeu da Itália a Medalha em Ouro por Bravura, honraria com a qual, além dele, foi distinguido só outro piloto alemão (Joachim Müncheberg, 135 vitórias). Até mesmo o Marechal de Campo Erwin Rommel "A Raposa do Deserto", teve que se contentar com a versão em prata desta condecoração.

"Todo mundo sabia que ninguém poderia se igualar a ele. Ninguém poderia fazer o mesmo. Alguns pilotos tentaram isto como Stahlschmidt, eu, e Rödel. Ele era um artista. Marseille era um artista ". Usando suas mãos para ilustrar. Nós estávamos aqui e ele estava bem acima em algum lugar ". Friedrich Körner, 36 vitórias, 2/JG27.

Algumas vitórias múltiplas de Marseille

Vitórias

Data

Horários

88 a 91

15.06.1942

18:01, 18:02, 18:04, 18:06

92 a 95

16.06.1942

18:02, 18:10, 18:11, 18:13

96 a 101

17.06.1942

12:02, 12:03, 12:05, 12:08, 12:09, 12:12

105 a 108

01.09.1942

08:26, 08:28, 08:35, 08:39

109 a 116

01.09.1942

10:55, 10:56, 10:58, 10:59, 11:01, 11:02, 11:03 e 11:05

117 a 121

01.09.1942

17:47, 17:48, 17:49, 17:50, 17:53

127 a 132

03.09.1942

07:20, 07:23, 07:28, 15:08, 15:10, 15:42

137 a 140

05.09.1942

10:48, 10:49, 10:51, 11:00

145 a 151

15.09.1942

16:51, 16:53, 16:54, 16:57, 16:59, 17:01, 17:02

152 a 158

26.09.1942

09:10, 09:13, 09:15, 09:16, 16:56, 16:59, 17:10
Mas o que fazia de Marseille tão efetivo na frente de batalha onde a maioria dos pilotos conseguia pouco ou nenhum sucesso? Vários fatores explicam seu sucesso no deserto, um deles é atribuído a sua extraordinária visão. Existe uma lenda que conta que Marseille teria olhado para o sol por um longo período de tempo de maneira que teria aclimatado os seus olhos ao clarão do deserto. A verdade é que Marseille tinha a habilidade de enxergar o avião inimigo muito antes que qualquer outro de sua formação. Com a tendência de avistar o inimigo primeiro, ele era então capaz de posicionar-se convenientemente para atacar suas vitimas que sucumbiam pela velocidade e surpresa de suas investidas. Reiner Pöttgen (7 vitórias), seu ala, recorda o quanto era difícil acompanhar Marseille, porque ele arremetia contra o inimigo quando ninguém havia sequer notado a sua presença.
Marseille também freqüentemente violava um dos principios básicos do combate aéreo: de que o combate deve ser feito a toda potência. Outros alas, que com ele voaram, comentavam que, usualmente, ele reduzia a manete de seu Bf 109 quase até o fim e que então usava seus flaps ao máximo, a fim de adquirir a sustentação necessária para fazer curvas mais fechadas e colocar-se em posição de ataque por debaixo do inimigo.
Uma vez ali, podia disparar sob o ventre de seu oponente uma rajada rápida e mortal, em seguida abria completamente o acelerador, recolhia os flaps e se lançava contra o próximo Tommy.
Sua soberba habilidade como piloto de caça era ofuscada apenas pelo seu comprometedor comportamento em terra. Dono de um temperamento forte e irreverente Jochen contrastava dos demais pilotos de sua unidade. No inicio, seus superiores considerava-o importuno, indisciplinado e prepotente. E o que ainda era pior, Marseille era, nos termos nazistas um "decadente". Usava cabelos compridos (para os padrões da Wehrmacht), gostava de músicas americanas como
Jazz e Swing, além de ser muito brincalhão.
"Jochen na realidade era um brincalhão; ele estava sempre inventando brincadeiras. Um dia ele veio me visitar com seu jipe Volkswagen colorido, que ele chamava de Otto. Depois da conversa, de uma xícara de café e de um copo de Doppio Kümmel italiano, ele entrou no seu jipe e dirigiu-o diretamente contra minha barraca, acabando com tudo. Em seguida, afastou o jipe com um largo sorriso em sua face" - Werner Schröer.
Seu alojamento salvo pelas paredes de lona, parecia ter sido transportado tal como estava em Paris. Sofás feitos com sacos de areia forrados com lona, caixas de mantimentos dispostos como se fossem mesas e cadeiras: não havia formalidade. A atmosfera de bar no alojamento completava-se com a instalação de um "barzinho" improvisado. Muito bem provido, para inveja dos que o visitavam. Oficiais alemães e italianos de altas patentes eram seus hóspedes freqüentes e se encontravam lado a lado com os colegas de esquadrão de Marseille. Ter visitado a Jochen havia se convertido numa espécie de "status" entre os altos oficiais do eixo.
Durante as últimas semanas, Marseille começou a mostrar sintomas de esgotamento, stress extremo, devido às exaustivas missões que o obrigavam a voar, duas a três vezes por dia. Muito distante estava a Batalha da Inglaterra, quando os pilotos alemães tinham descanso suficiente entre as missões. Como acontecia com todos os pilotos, após o termino de cada missão, necessitava de mais tempo para recuperar-se. Ele começou a perder peso e seu rosto já refletia o cansaço.
A manhã de 30 de setembro de 1942 parecia como muitas outras manhãs de verão no deserto norte africano, com o clima quente, seco e estável. Para os homens do I/JG27 a antecipação de outro dia cheio de duros combates estava presente na mente de todos. O
Afrika Korps comandado pelo Marechal de Campo Erwin Rommel estava em uma posição muito delicada, sendo atacado e talvez tivesse suas linhas rompidas pelo 8º Exército Britânico sob comando de Montgomery, que havia ganho uma liderança agressiva e estava com moral elevada para um ataque. Os homens da JG27 estavam não apenas atentos às notícias da derrota de Rommel na Batalha de Alam el Halfa, acontecida em início de setembro, como também viviam sob o causticante clima do deserto, a falta de suprimento, o constante stress do combate aéreo e a presença constante dos ataques dos "comandos" britânicos contra seus aeródromos. Embora, a situação fosse muito difícil para o Gruppe, além de terem perdido dois dos mais experientes pilotos da unidade, a moral individual estava extremamente alta, pois as demais unidades da área tinham problemas muito maiores.
O Hauptmann Hans-Joachim Marseille ao se levantar da cama naquela manhã foi saudado por Mathias, seu criado particular. A tensão do ano e meio de combate ininterruptos mostrava seus efeitos, na face de um jovem de apenas 22 anos de idade. Aquela manhã de 30 de setembro parecia ser mais uma daquelas manhãs em que ele iria sair à caça nos céus egípcios, com mais vitórias e glórias. Mas nesse dia fatídico, um acidente transformaria a vida daquele que talvez fosse se tornar o maior piloto de caça da guerra e herói da nação germânica em uma simples nota de rodapé no solo do deserto do Norte da África.
Programado para voar no novo Bf 109G-2 (W.Nr.14256), Jochen foi chamado mais uma vez para fazer a escolta dos lentos e obsoletos Ju 87 Stuka que atacariam objetivos no Egito. Às 10:47, Hans-Joachim Marseille decolou para a que seria sua última missão. Depois de completada, Marseille e sua unidade foram novamente orientados para interceptar uma esquadrilha inimiga localizada ao sul de Imayid, Egito. No entanto, nenhum contato com as aeronaves inimigas foi estabelecido e o esquadrão de Bf 109s tomou o rumo de casa.
Às 11:35, Marseille avisa que tem fumaça entrando em seu cockpit e começa a dificultar sua visibilidade e respiração. Os demais membros da esquadrilha insistem para que Jochen permaneça em seu avião pelo menos por mais alguns minutos pois ainda estavam sobre o território inimigo. Por volta de 11:39, a fumaça no
interior do cockpit está agora insuportável e Marseille é forçado a abandonar o "14-Amarelo". Sua última transmissão pelo rádio foi: "Eu tenho que sair agora. Não posso suportar mais". Nesse momento já estava sobre o território do Afrika Korps a aproximadamente 3.050 metros de altitude. Marseille então manobra seu Bf 109 a fim de preparar-se para abandoná-lo. Mas sofrendo provavelmente de uma desorientação espacial, possivelmente por estar intoxicado pela fumaça, que também obstruía a visão no interior do cockpit, o avião entra num mergulho invertido com ângulo aproximado de 70º a 80º e com velocidade de aproximadamente 205 m/s. Marseille então salta de seu Bf 109 avariado. Lamentavelmente, batendo o lado esquerdo de seu peito na cauda do avião, matando-o instantaneamente ou incapacitando-o de qualquer tentativa de abrir seu pára-quedas. Os demais membros do esquadrão observam horrorizados o corpo de Jochen cair 7 Km ao sul de Sidi Abd el Rahman, Egito. Um final injusto para o maior ás do Norte da África (talvez de toda a Segunda Grande Guerra) e um presságio ruim do que iria acontecer a Luftwaffe e conseqüentemente a todo III Reich. No local do acidente (N 30° 53,45' E 28° 41,71'), encontra-se hoje um pequeno monumento em forma de pirâmide construído em sua homenagem, na lápide, em alemão, italiano e árabe está escrito: "Aqui jaz o Cap. Hans-Joachim Marseille. Tombou INVICTO, em 30 de setembro de 1942."
Marseille foi enterrado com todas as honras militares, no cemitério militar em Derna, Egito. Seus colegas de esquadrão ficaram tão abatidos com sua morte que o I Gruppe inteiro foi afastado das operações de combate por quase um mês. Algum tempo depois, o emblema do I/JG27 foi alterado, recebendo uma borda cinza escuro com os seguintes dizeres Staffel Marseille (Esquadrão de Marseille).
Tendo participado de mais de 388 missões de combate, obteve um total de 158 vitórias confirmadas (das quais 154 delas foram contra caças!), sendo 151 conquistadas no período de apenas 18 meses em que esteve no deserto, lutando contra os pilotos da DAF. Nenhum outro piloto conseguiu tantas vitórias na frente ocidental quanto Marseille. No total foram 101 Curtiss P-40, 30 Hawker Hurricane, 16 Supermarine Spitfire e 4 bom bardeiros bimotores, a grande maioria delas diante dos bem treinados e equipados pilotos da RAF.Marseille ocupa a 27ª posição no ranking germânico de vitórias aéreas. No entanto, com o mais elevado respeito a que fazem jus os ases alemães que o precedem, ele os excedeu a todos por ter alcançado o maior número de vitórias contra aeronaves britânicas do que qualquer outro piloto de caça.

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